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Difícil dizer quem sou, mas sei que sou o que nem mesmo cria queria ser. Sou o pai da Valentina e o amor de uma Carolina. Sou a soma das minhas experiências. Sou o que vem sendo minha vivência. Sou Feliz eu sei e todo mundo me diz...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Autores lançam livro sobre raridades e colecionáveis

RETIRADO DE www.wagnerxavier.blogspot.com

ROCK RARO - o maravilhoso e desconhecido mundo do rock

 
Amigos,
A partir de 17.12.2010 estará disponivel o livro ROCK RARO - o maravilhoso e desconhecido mundo do rock.
O livro, editado pela Livre Expressão - RJ, traz resenhas, fotos coloridas (retiradas da coleção particular dos autores) de 352 discos RAROS de 352 grupos DIFERENTES.
Com o amigo e colaborador Joao Carlos Roberto tivemos o prazer de criar este trabalho como forma de homenagear a estes maravilhosos grupos que não ficaram tão conhecidos ao longo do tempo além de ser a primeiro livro totalmente nacional sobre o assunto.
Grupos como Jericho Jones, Twenty Sixty Six, Fuzzy Duck, Mellow Candle, Holy Moses, Fanny Adams, Alamo, Witch, Bonalim e muitos outros grupos estão contidos no trabalho, cada um com apenas um disco.
O periodo estudado do livro é entre 1966 e 1979 e traz albuns de hard rock, progressivo, folk rock, blues rock como os principais generos.
As resenhas, todas com opiniões PARTICULARES, não tem o foco crítico, jornalistico, musical, mas sim opinião dos autores. Procuramos incluir apenas discos que gostamos. Cada página traz um album resenhado e uma cotação que varia entre BOM, MUITO BOM, EXCELENTE e DIAMANTE, sendo que para este ultimo cada autor escolheu 10 albuns apenas.
Para adquirir o livro envie um email para : wagner2505@yahoo.com.br ourockraro@gmail.com e na sequencia combinamos o envio.
Para o pessoal de Joinville esta na livraria Midas e Rock Total.
Para o pessoal de Sao Paulo ou demais estados: Galeria do Rock: Dunno - 11 3337-0322 - 2o andar - Loja 371 - Helton Stand Up - 11 3362-1561 - 2o andar - Loja 368 - Nivaldo Galeria Nova Barao Captain Ray - 11 3151-4524 - Rua Alta - Loja 37 - Ray Big Pappa Records, 11 3237-0176 - Rua Alta - Loja 30 - Carlos e Catia
Praça Benedito Calixto - aos sabados na Rua dos Discos
Para clientes de Curitiba o livro pode ser adquirido na Livraria Itiban na rua Silva Jardim, 845 - (41) 3232-5367. E-mail itiban@netpar.com.br.
Caso algum lojista de outro lugar queira vender basta entrar em contato comigo diretamente,
O preço final sugerido é R$ 80,00 mais custos de correio. Não perca a oportunidade de apreciar este trabalho feito com carinho e coracao ! Valeu ? abraços Wagner /Joao

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Modern Sound fecha as portas: sobrou comprar cds entre repolhos e baixar arquivos na solidão de um computador













Há 44 anos no mercado, a Modern Sound de Copacabana, tradicional loja de discos e depois CDs fecha as portas esta semana. Quem gosta de música e já passou pela experiência de "viajar" entre os milhares de títulos lá oferecidos não consegue esconder a tristeza e o desalento com os rumos da indústria musical no Brasil. Aqui em Campos, a Vox já fechou há algum tempo, e que eu saiba não existe outra loja do ramo.

"Boa parte do nosso público potencial baixa gratuitamente pela internet CDs, filmes, livros.
Além da grande rede e da pirataria física - esta, segundo Pedro Otávio, nunca chegou a afetar a Modern Sound -, a política praticada pela indústria do disco a partir dos anos 90, vendendo grandes lotes de CDs a preço baixo para supermercados e lojas de departamento, foi um tiro no pé, acabando com as pequenas lojas de rua.
- Eles banalizaram o produto CD. Alguns títulos, nós comprávamos mais barato nesses magazines do que diretamente com as gravadoras. Há dez anos, eram cerca de 40 lojas de disco em Copacabana. Ultimamente, só restava a gente.
Para colecionadores é um baque, o fim de uma era, mas os Pedros, pai e filho, não pretendem desistir.
- Estamos procurando um imóvel menor em Copacabana. Até lá, vamos vender nosso estoque com descontos de 30% - adiantou Passos.
Enquanto a Modern Sound não renascer, muitos órfãos vão lamentar. Além de consumidores, músicos, produtores e executivos da indústria, como João Augusto, dono da gravadora Deck e que, este ano, reabriu a que hoje é a única fábrica de LPs de vinil na América Latina.
- Artistas independentes, além de gravadoras, multinacionais ou independentes, tinham na Modern Sound um local garantido para seus títulos, e ainda com a vantagem do bistrô para pequenas apresentações. Lá encontrávamos de tudo, enquanto em outras lojas ou redes a oferta era sempre limitada aos produtos mais populares - diz João, que arrisca um diagnóstico para a crise. - A queda de vendas de CDs se iniciou no momento em que o formato passou a ser oferecido nas bancas de supermercados e nos saldões de grandes redes de lojas de departamento. O produto CD perdeu todo o seu glamour. Remando contra a maré, a Modern Sound manteve a classe do produto. É uma perda imensa, que nos surpreende porque pensávamos que, exatamente por ser diferente, ela se manteria por muito tempo.
Para o cantor e compositor Marcos Valle, a perda é irreparável:
- Além de uma loja sofisticada, virara uma casa de shows excelente, perfeita para o lançamento de CDs, com shows que atraíam grande público e davam trabalho a muitos músicos. Sinceramente, lamento profundamente, como o fiz no fechamento do Mistura Fina.
Outro cantor e compositor, Ed Motta, lembra que pisou pela primeira vez na Modern Sound há quase três décadas:
- Eu tinha 10 anos e, desde então, esse foi o lugar que me abasteceu de milhares de títulos fundamentais para a minha formação.
O compositor Ronaldo Bastos, também sócio da gravadora Dubas Música, lamenta o fim de "um oásis de cultura e sofisticação":
- Quando uma instituição como a Modern Sound fecha, o que se perde é o que a indústria da música mais precisa e, paradoxalmente, deixou se esvair pelo ralo: mágica - diz Bastos, que aponta outros vilões. - É lamentável ver que essas ilhas estejam sendo submersas enquanto quem deveria procurar a solução repete um discurso técnico contaminado por essa vanguarda do atraso que hoje toma conta da mídia e das instituições culturais, arrotando de boca cheia bobagens como o fim do disco, o fim do quadro, o fim dos direitos etc. Algo ideologicamente oposto aos interesses fundamentais da indústria cultural.
Produtor que migrou do disco (foi sócio das independentes Natasha e Nikita) para a internet (é diretor do iMusica), Felippe Llerena lista os méritos da loja:
- Era a única que comprava todo e qualquer lançamento de qualquer gravadora independente. E pagava adiantado. Era o orgulho das gravadoras independentes. Fãs e amigos que indagavam pelos álbuns sempre ouviam: "Vai na Modern Sound que lá tem!"
Algo confirmado, desde o fim dos anos 60, pelo cineasta e produtor musical Luiz Fernando Borges, um frequentador assíduo da loja, que foi a fonte principal para sua fabulosa coleção de LPs:
- O CD nunca me seduziu, portanto, nas últimos anos, eu já não comprava. Mas, graças à Modern Sound, tenho primeiras edições de LPs que hoje valem muito.
Dono do selo Lab344, que nos últimos três anos rema contra a corrente e aposta em catálogo internacional (de artistas dos 80, como A-ha e Cyndi Lauper, a novos, como Vampire Weekend e M.I.A.), Sérgio Martins é outro que chora a perda:
- A Modern Sound é referência para aqueles que sempre encararam a música como arte. Estávamos cogitando uma promoção com Cyndi Lauper aqui no Rio, durante sua turnê em fevereiro, e a Modern era a nossa primeira opção."

Fonte: Globo.com

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fã do Green Day rouba a cena no Show de SP

O moleque fez o diabo no palco do Green Day. Cantou Logview, tocou bateria, levou a galera à loucura com direito a coro e tudo e ainda sapecou um beijo na Boca de Billie Armstrong.  O vocalista se rendeu à energia do fã e, ao final, após mandar um "Fucking crazy", presenteou-o com sua guitarra pra delírio total do garoto e sob protestos de fãs invejosos. Como não contar aos netos um episódio desses??? Vale muito a pena conferir.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nem só Bossa nem só Rock e Creepy John Thomas

Olá amigos (poucos felizardos...rs) que acompanham este blog. Percebi que minha ultima postagem que trouxe um pequeno ( tá certo não era tão pequeno) artigo sobre bossa nova  despertou bastante interesse em todos os que nos acompanham, de modo que recebeu efusivos comentários (na verdade um) dos mais diversos leitores, dos mais diversos seguimentos da sociedade brasileira (na verdade minha esposa). Também quem vai perder tempo lendo sobre algo tão careta não é mesmo? Errado. A bossa nova talvez tenha sido o produto cultural brasileiro que mais influenciou a cultura exterior e é uma das múscas mais sofisticadas e elaboradas do nosso tempo, tanto que muitos gringos tentam atribuir (em vão é claro) sua criação à Burt Bacharah.  Sai pra lá Jaburú! É João Gilberto, é Tom, é Juazeiro e Ipanema, é nossa! Apenas para se ter uma dimensão do que falo, vou dizer pra vocês que Garota de Ipanema, música de Tom e Vinicius, foi executada aproximadamente 5 milhões de vezes, mais ou menos empatando com Imagine dos Beatles. Dá pra crer? Pois é verdade. E também sempre foi verdade que o produto da nossa cultura sempre foi muito mais elogiado e consumido lá fora do que aqui dentro. Shiiiiiiii! Isso tem raízes tão profundas que nem me atrevo a citar, pesquisem os sociólogos e historiadores. Mas tudo bem, sem proselitismos. Eu particularmente penso que música é uma coisa muito ligada à emoção, sentimento.  Por isso que da mesma forma que não é saudável que uma pessoa fique triste o tempo todo, também não é saudável que ela viva feliz e com os dentes amostra durante as 24h do dia. A minha vida tem momentos bossa nova, momentos sussurrados, mas também, e principalmente, momentos rock’n roll, momentos soul, momentos funk, folk, samba. Embora nunca tenha encontrado nela um momento sertanejo ou pagode. Graças a Deus!!!
Mas o que estou fazendo??? De novo essa conversinha de Bossa Nova??? Não. Isso foi só uma introdução à postagem dessa semana que vem mais Rock do que nunca.
 Essa semana me deparei com um disco que me tirou de órbita. Eu, claro, na minha ignorância, ou ínfima cultura musical, o que preferirem, nunca tinha escutado nem ouvido falar. Meu Deus como sou limitado!!!!! Se você é como eu e pensa que o rock nasceu com o Nirvana, por favor!!! Dê uma olhada nos anos 60 e início dos 70, principalmente entre 67 e 71. Você terá gratas e abençoadas surpresas como eu tive. Sim senhores, esta semana conheci ninguém mais e ninguém menos que John Thomas, ou “Creepy John Thomas”!!!! Que foi? Não conhece? Tolo ignorante! Vá atrás agora porque é bom demaissss! Estou Falando do LP Brother Bat Bone, o primeiro da Banda. Veneno de concentração elevada, o disco é o que de melhor já se criou em termos de hard blues psicodélico. A banda britânica tendo a frente o guitarrista australiano John Thomas que já era conhecido na Austrália por suas furiosas performances ao vivo, os Rolling Stones, Roy Orbinson e muitos outros já curtiam o som dele de seus shows na Austrália, mudou-se para Londres em 1969 e lançou o seu nervoso LP pela RCA, “Brother Bat Bone” (1969).
O segundo álbum “Creepy John Thomas” foi lançado pelo selo Teldec. Esses dois álbuns são raríssimos e se tornaram clássicos cultuados por historiadores de Rock. Há relatos que ambos os discos tenham sido pirateados e lançados pela Fingerprints records sem que nunca Thomas tivesse recebido quaisquer royalties por isso. Coisas da industria musical. No início dos anos 70, após passar mais de um ano em São Francisco, John retornou para Londres e entrou para o E. B. B. como guitarrista. Em 1979 mudou-se para Berlin onde liderou a banda Johny and the Drivers. Ele continuou fazendo parte da cena rock de Berlim pelos 10 anos que se seguiram. Sua banda lançou dois discos. Um pela Polydor “This must Be the Night” e o outro pela Phonogram “Homing in on Zero”. Atualmente John vive em Londres onde passa seu tempo compondo e escrevendo. Ele criou a Werewolf Records passando a gravar e produzir álbuns para outros artistas. Foi pelo seu selo que ele lançou seu primeiro trabalho solo “Remember me this Way”. Embora o original “Brother Bat Bone” seja algo quase impossível de se encontrar, o disco pode ser encontrado em CD e também num relançamento italiano limitado a 1000 cópias da Tapestry Records. A sim, embora eu não recomende, acho sempre que se gosta de um artista e se valoriza o seu trabalho você deve pagar para tê-lo, existem sites na internet que hospedam o conteúdo deste disco. Um deles é o Megaupload em http://www.megaupload.com/?d=W7OW99LO. Mas lembrem-se comprem o disco, não há nada melhor que ouvir algo seu e saber que você possui em sua estante um pedacinho da história do Rock, afinal cara-pálida, com seus dons artísticos, essa é a única forma de você contribuir pra ela!!! Um grande abraço e fiquem com as imagens do disco.
                       


domingo, 19 de setembro de 2010

Bossa Nova e suas histórias - Por Sóstenes Pernambuco Pires Barros

O que é 'Bossa'? Por que 'Bossa Nova'? Onde, quando e como tudo começou?


A palavra 'bossa' era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos cinqüenta , significava 'jeito', 'maneira', 'modo'. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que esse alguém tinha 'bossa'. Se o Ricardo desenhava bem, dizia-se que tinha 'bossa de arquiteto'. Se o Paulo escrevia, redigia bem, tinha 'bossa de jornalista'. E a expressão 'Bossa Nova' surgiu em oposição a tudo o que um grupo de jovens achava superado, velho, arcaico, antigo. Sim, mas o quê era julgado superado e velho, na música popular brasileira? 'Tudo', dizia a mocidade bronzeada de Copacabana.

A tristeza e melancolia das letras, a repetição dos ritmos 'abolerados' e dos 'sambas-canção'; era tudo a mesma coisa, não obstante os grandes cantores da época: Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Carlos Galhardo. Lindas valsas e serestas? Sim, e daí? Daí é que algo tinha de ser feito.

Diferentes harmonias, poesias mais simples, novos ritmos. - Ritmo é batida, como do relógio, do pulso, do coração- E Bossa Nova é batida diferente do violão, poesia diferente das letras, cantores diferentes dos mestres. A Bossa Nova não seria melhor nem pior. Seria completamente diferente de tudo, mais intimista, mais refinada, mais alegre, otimista. Diferente. Não começou especificamente num lugar, numa rua, num evento, num Festival. A rigor, ela não é nem um gênero musical. É o tratamento que se dá a uma música, em termos de 'batida' e de ritmo.


O primeiro grande marco inicial da Bossa Nova aconteceu em primeiro de março de 1958,quando João Gilberto cantou, com a batida de violão diferente, 'Chega de Saudade', posteriormente gravada por Eliseth Cardoso, no disco 'Canção do amor demais'. Em 1956, ninguém falava em Bossa Nova, mas o apartamento onde morava Nara Leão, no Edifício Palácio Champs Elysée, em frente ao Posto 4, já era ponto de reunião dos rapazes bronzeados de Copacabana: Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli e outros. Não se compunham músicas ali. Ouviam-se. E trocavam idéias.

Só no ano seguinte, em 1957, João Gilberto chegou ao Rio e, certa noite, foi à casa de Roberto Menescal, na Galeria do mesmo nome, em Copacabana. E aconteceu o grande encontro: O ritmo encontrou a música e a poesia.


O GRANDE ENCONTRO: JOÃO GILBERTO E ROBERTO MENESCAL

UM DESLUMBRAMENTO - OS PRIMÓRDIOS DA BOSSA NOVA


- Tem um violão aí? Eu sou o João Gilberto. Podíamos tocar alguma coisa.

Menescal, surpreso com "aquela figura esquisita", mandou-o entrar.

Já ouvira falar num "baiano meio louco, genial, afinadíssimo," que às vezes aparecia no Plaza, na Rua Princesa Isabel, por volta de 1957.

Carlos Lyra já conhecia "aquela figura".

Mas voltemos ao apartamento do Menescal.

Casa cheia. Menescal levou o baiano para o quarto dos fundos. Curioso. Violão examinado e devidamente afinado, João começou a cantar "Hô–ba-la-la", de sua autoria. Uma espécie de beguine – musica caribenha já esquecida. Menescal não entendeu nada da letra. Mas quem se importava com letra? A voz do "cara" era um instrumento! Um trombone da melhor qualidade. E João Gilberto não parecia cantar. Dizia as letras, num sussurro, mal abrindo os lábios. E repetiu o estranhíssimo "Ho-ba-la-la" cinco ou seis vezes, cada uma de maneira diferente, mas com a mesma batida. A mesma bossa. Quase ninguém conhecia João Gilberto, no Rio, em 1957, principalmente os mais jovens. Quem ele era, o que fazia, como aprendera violão, como cantar daquele jeito diferente. Sabia-se, vagamente, que viera da Bahia pra cantar num conjunto, mas não se adaptara. E cantava esporadicamente, na noite do Rio. Fascinado, Menescal resolveu "mostrar sua descoberta" aos amigos.

E saiu com o baiano a tiracolo.

Com violão e tudo.

Começou pelo apartamento de Ronaldo Bôscoli, na rua Otaviano Hudson, onde João Gilberto cantou "Ho-ba-la-la" muitas vezes.

E cantou outra canção muito estranha, chamada "Bim-Bom".


Música noite a dentro - Como dormir?

A "pré-Bossa Nova" de Dick Farney

O mestre João Gilberto abriu os ouvidos de Menescal e Bôscoli para uma música que até então desconheciam. O dia amanhecia quando chegaram os três ao apartamento da Nara Leão, onde "o show" foi repetido mais uma vez.

E o grupo partiu para a Urca, onde morava Ana Lu. Fascinado, Roberto Menescal queria aprender aquela "batida" diferente e não tirava os olhos das mãos de João Gilberto. E era professor de violão, como o Carlos Lyra. E a voz? O baiano explicou como conseguia soltar "um monte" de frases num único fôlego. "Reza a lenda" que João Gilberto admirava muito a respiração de Dick Farney, que já cantava uma espécie de "pré-bossa nova". E, mesmo fumando dois maços de cigarros por dia, tinha uma técnica muito especial, em termos de respiração. Sinatra, claro, era o guru maior. Ensinou ao mestre que ensinou ao professor. Talvez João Gilberto nem soubesse que Sinatra era mestre em respiração. Seus mestres eram mesmo os yogues indianos. O baiano era muito estranho!

Com o nome de Farnésio Dutra cantor algum conseguiria ser conhecido, mesmo com o enorme charme que encantava as meninas, à época da Segunda Guerra Mundial.

Assim, um rapaz de 24 anos tornou-se Dick Farney - charme, voz, elegância, bom gosto "pra dar vender", como se dizia. Esbanjava talento no Cassino da Urca, no tempo em que o jogo era permitido. Ele tinha gravado "Copacabana", pela Continental, em 1942, de João de Barro, o nosso querido "Braguinha". Sucesso absoluto que ouve-se até hoje, nas rádios de bom gosto.

Mas Dick queria mais, muito mais. Seu "papa" era Frank Sinatra, "The Voice". Nele se inspirava para cantar, gesticular, andar no palco, estar sempre de gravata e cabelo bem penteado. Já o chamavam de "O Sinatra Brasileiro" e havia até um Fan Clube, de carteirinha e tudo: "Sinatra-Farney Fan Club".

Aos vinte e cinco anos foi para os Estados Unidos para tentar cantar e gravar em inglês, levando um contrato inicial de cinqüenta e duas semanas com a Cadeia de Radio NBC. E não é que deu certo? Gravou um grande sucesso da época: "Tenderly". Nos dois anos seguintes a Continental lançou outros sucessos, clássicos como "Ser ou não ser", "Marina" e "Esquece".

Eram os anos 1947 e 1948, quando voltou para o Brasil - não sem antes ser elogiado pessoalmente pelo maior cantor do século: Francis Albert Sinatra. Como escreveu Ruy Castro, em relação a Frank Sinatra, ouso repetir a frase com relação a Dick Farney: "Não creio que o século vinte tenha fundos para resgatar sua dívida emocional para com Dick Farney". Ele emocionou milhões de corações com "Somos Dois", "Marina", "Copacabana", "Nick Bar", "Aeromoça", "Não tem Solução", "A saudade mata a gente", "Tereza da Praia", "Uma loira", "Um Cantinho e Você" e tantas outras belezas!

Os bronzeados rapazes de Copacabana

Roberto Menescal, Carlos Lyra e a Academia de Violão

Em 1956, pressionado pela familia, Menescal teve que "deixar a boa vida" de pesca submarina, violão e milk shake. E veio o conflito natural de todo jovem: a escolha da profissão. Não sabia se, continuando a tradição familiar, faria o vestibular para Arquitetura, se entrava para a Marinha (onde havia muitos "barquinhos" e muito peixe pra pescar), ou continuava a aprender violão com o Edinho, do Trio Irakitan, para desgosto dos pais.

Fallsificando a carteira de estudante, começava a invadir os lugares da noite carioca, fascinado pelo Tito Madi e pela Sylvinha Telles.

Fascinado também pelo disco "Julie is her name", onde um tal de Barney Kessel "destroçava" um tremendo violão!

Preocupados, os pais observavam o fanatismo do Menescal, que cursava o último ano do Curso Científico do Colégio Mello e Souza, na Rua Xavier da Silveira.

Ele soube que no Colégio Mallet Soares, na mesma rua, um tal de Carlos Lyra já tocava violão por cifra, quase profissional. Muitos alunos, e até professores, "matavam aula" pra ouvir o violão do Carlos Lyra, que já gravara duas músicas. Sem o conhecimento dos pais, Menescal rapidamente pediu transferência para o Mallet Soares. Queria ficar perto do mestre das harmonias.

Era 1956. Os pais de Menescal, como todos os pais, não aceitavam o violão, de jeito nenhum. Era "instrumento de boêmio irresponsável". E, coitado do Menescal, que não tinha nada de boêmio. Não fumava. Só bebia milk shake. Com a mesada cortada pelos pais preocupados, o nosso Menescal teria que virar-se. Sem dinheiro para o milk shake, propôs ao Carlinhos Lyra abrirem uma Academia de Violão. Mais que depressa, Carlos Lyra aceitou, louco pra se livrar dos desvelos de sua super-mãe.


MENESCAL, CARLOS LYRA E A ACADEMIA DE VIOLÃO

HISTÓRIAS NO APARTAMENTO DA RUA SÁ FERREIRA

João Paulo, amigo de Carlos Lyra, tinha um pequeno apartamento na Rua Sá Ferreira, para "encontros furtivos".

Sabendo que os dois "professores" planejavam montar uma Escola de Violão propôs-lhes o seguinte:

- Vocês me pagam 10% do que receberem dos alunos e a "Academia" pode começar. Fica estabelecido que os "encontros" estão automaticamente suspensos.

Negocio fechado. E o que parecia uma aventura começou a dar bons frutos. Aluno não faltava, só que a grande maioria era composta de alunas. As mães zelosas começaram a desconfiar do repentino interesse de suas filhas pelo violão. E logo souberam da verdade: Os professores eram "dois tremendos boas pinta".

Mas... negócio é negócio e os professores faziam questão de manter a Academia nos rígidos padrões de respeito às alunas, principalmente o Roberto Menescal.

Sucesso absoluto. Em poucas semanas já havia quase cinqüenta alunas, inclusive a Nara Leão, em cujo apartamento aconteciam as reuniões tão famosas.

Carlinhos Lyra, que já tinha composto sua primeira música [e letra], "Quando chegares" [1954], tinha na praça as músicas "Menino" e "Foi a noite", gravadas pela Silvinha Telles. Ficou independente das "mesadas maternas".

Enquanto dava aulas de violão, Carlos Lyra , em 1956, "estoura" com seu primeiro grande sucesso: "Maria Ninguém". Mal sabia que seria uma das músicas favoritas de Jaqueline Kennedy que cantava "Maria Nobody"!

Daí em diante foi só sucesso. O mestre Tom Jobim afirmava que Carlos Lyra era autor das melhores harmonias. Em 1962 ele estava no famoso Concerto de Bossa Nova, no Carnegie Hall, de Nova York. Uma tremenda desorganização que fez a Bossa ultrapassar fronteiras e ganhar o mundo. Nesse mesmo ano compõe com o mestre Vinicius o musical "Pobre Menina Rica".

Carlos Lyra perguntava ao Vinicius de Moraes:

- Mas, Vinicius, como pode uma menina da Vieira Souto se apaixonar por um mendigo?

E o nosso "poetinha" retrucou:

- É primavera! É primavera!

Nesse musical estão duas obras primas de poesia e música: "Minha namorada" e "Primavera". Sem dúvida, duas das mais belas obras da nossa MPB.

SURGE UM NOVO PERSONAGEM NA HISTÓRIA DA BOSSA NOVA
RONALDO BÔSCOLI ENCONTRA ROBERTO MENESCAL
E COMEÇA UMA PARCERIA DE PRIMEIRA QUALIDADE

Era 1956. Numa roda de violão, na Gávea, Menescal encontrou um grupo de rapazes cantando "coisas diferentes". Um deles tentava cantar músicas de Dick Farney, o que já era atestado de bom gosto. Era um repórter do jornal "Última Hora" chamado Ronaldo Bôscoli. E cantava muito mal. Conversa vai, conversa vem, viram que tinham muita coisa em comum: Detestavam a tristeza das músicas que à época pareciam "dor de cotovelo". A exemplo de Dick Farney, adoravam Frank Sinatra. O forte do Menescal sempre foi a música. O do Bôscoli, a letra.

Marcaram um encontro que não houve, mas no segundo, na casa de Nara, os dois disseram "presente". Já era 1957 e a "Academia do Violão" estava fechada,"por motivo de força maior".

Ronaldo Bôscoli levou Chico Feitosa, (com quem dividia um apartamento) às famosas reuniões em casa de Nara. Chico já era parceiro de Bôscoli na canção "Fim de noite" e o nosso Ronaldo acabou instalado na casa de Nara, graças à extrema bondade dos pais da futura "musa da bossa nova". Ele tinha 28 anos e ela apenas 20. Nara e os pais se encantaram com o hóspede. Charmoso, inteligente e, como ela, muito tímido, o que aumentava a atração. Já saíam juntos, sem receios dos pais. Sabiam que em sua companhia ela não corria riscos.

A essa altura Carlinhos Lyra e Menescal reuniram suas economias e reabriram a Academia. Novo sucesso: 200 alunas! E quando o Menescal apresentou Carlos Lyra ao Ronaldo Bôscoli, aí sim, a Bossa Nova começou a ficar mais rica, em quantidade e qualidade de poetas, cantores e compositores. E começou o sucesso: "Se é tarde me perdoa", "Lobo Bobo". E a Academia prosperava, já com um terceiro professor: Normando Santos. E a turma da casa de Nara aumentou mais ainda, com a chegada dos irmãos Castro Neves, Mário e Oscar, dois "ases" em música instrumental.

NARA LEÃO
SEU TALENTO, SUA VOZ, SEUS LINDOS JOELHOS
AS FAMOSAS REUNIÕES EM SEU APARTAMENTO


Dr. Jairo Leão e sua mulher, dona Tinoca, eram do Espírito Santo, mas foi aqui no Rio que sua carreira de advogado teve êxito.

Tinham duas filhas: Danuza, a mais velha, e Nara, que nasceu em 19 de janeiro de 1942 e veio para o Rio aos dois anos. Tinha apenas quatorze quando a Bossa Nova entrou na sua vida. Era 1956.

O "Cursinho de Violão" recebeu uma nova aluna: Nara Lofego Leão.

Ao contrário do pai de Menescal, o Dr. Jairo tinha uma outra opinião no que diz respeito ao famoso instrumento. Mesmo antes de existir a escola de violão, Nara já possuia um violão e um famoso professor: Patricio Teixeira, que dava aulas em sua casa. Levava nítida vantagem em relação às colegas de classe, claro.

Foi Ronaldo Bôscoli quem descobriu a beleza dos seus joelhos.

Escreve ele:

"Chegando lá, toquei a campainha e quem me recebeu foi a própria Nara. Estava de shortinho curto, deixando inteiramente a descoberto seus joelhos redondinhos, que foram objeto de muitas poesias, crônicas e suspiros gerais."

Nos últimos anos de 1950, trabalhava como repórter, num jornal do Rio. Estreou profissionalmente em 1963, cantando no musical "Pobre Menina Rica", de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. Gravou duas faixas no disco de Carlos Lyra "Depois do Carnaval": "É tão triste dizer adeus" e "Promessas de você". No ano seguinte, em 1964, gravou seu primeiro LP: "Nara". Um disco muito polêmico, porque misturou Bossa Nova com samba de morro que "não tinha nada a ver".

No fim daquele ano gravou o famoso "Opinião" e participou do show-protesto. Como Carlos Lyra, Nara era o que se chamava uma cantora "politicamente engajada". Em 1965 convidou uma nova cantora, Maria Bethânia, para substituí-la no show. Tornou-se, assim, descobridora da famosa cantora baiana.

1966 foi um ano de grandes sucessos: "A Banda", de Chico Buarque e "Disparada" de Geraldo Vandré. "A Banda" dividiu com "Disparada" o primeiro lugar no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Sucesso fulminante. O compacto vendeu 55 mil cópias em apenas quatro dias.

Um tumor, localizado em seu cérebro, causou sua morte em 7de junho de 1989. Ela resistiu quase quatro anos.



ANTÔNIO CARLOS JOBIM


A Bossa Nova já nasceu abençoada por Deus. Teve a participação brilhante do maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim - ou simplesmente Tom Jobim.

É unanimidade nacional: Tom foi a figura mais importante da música brasileira, em toda a sua história, só comparável a Villa-Lobos, a quem admirava profundamente. Conhecido e reconhecido em todo o mundo, Tom havia mudado de endereço, indo morar em Copacabana.

Em 1954, Tom retornou a Ipanema, para famoso endereço: Rua Nascimento Silva,107 apartamento 201. Foi nele que, em parceria com Vinicius de Moraes, compôs o clássico "Se todos fossem iguais a você", em 1956. Em 1957, compôs outro clássico, "Chega de saudade" e reencontrou João Gilberto. Alguns pesquisadores acham que daquele encontro resultou a Bossa Nova. Vinicius de Moraes concorda, mas o tema é muito controvertido. Em 62 Tom veio morar perto de mim, aqui na Rua Barão da Torre, também número 107 e aqui ficou até 1965. Naquele ano recebeu um bom dinheiro de direitos autorais e comprou uma casa na Gávea, na Rua Codajás, deixando (fisicamente) Ipanema para sempre. Mas Ipanema, e não Copacabana, é o berço da Bossa Nova. Escreve Ruy Castro em "Ela é Carioca":

...embora a vitrine da Bossa Nova fosse Copacabana, o coração musical do movimento estava em Ipanema. Foi aqui que ele compôs, com Newton Mendonça, "Foi a Noite", "Caminhos Cruzados", "Discussão", "Domingo Azul do Mar", "Meditação", "Desafinado" e "Samba de uma nota só". Aqui ele compôs, com Dolores Duran "Estrada do Sol", "Se é por falta de adeus" e "Por causa de você".

Em Ipanema ele compôs "Eu sei que vou te amar", "A felicidade", "Insensatez", "Agua de Beber", "O amor em Paz", "Por toda a minha vida", "O grande amor", "O morro não tem vez", "Ela é Carioca", "Garota de Ipanema", "Dindi", "Inútil Paisagem", "Samba do avião" e tantas obras primas.

Será coincidência que a fase mais solar e marítima da obra de Tom tenha sido feita quando ele morava aqui?"

O que vocês acham?

VINÍCIUS DE MORAES

O CASAMENTO PERFEITO: DOIS GÊNIOS SE ENCONTRAM NA BOSSA

Aos quarenta e cinco anos, em janeiro de 1958, Vinicius - o poeta, encontra a semente da Bossa Nova em "Chega de Saudade" - uma das faixas do LP "Canção do Amor Demais", gravado por Elizeth Cardoso. Seu parceiro - o maestro maior - foi Tom Jobim. A Bossa Nova nascia privilegiada. Três "monstros sagrados". Já podia-se ouvir a batida do violão de João Gilberto. De repente um diplomata foi promovido a guru de um movimento musical. E não parou mais de escrever maravilhas.

Entre 58 e 65 produziu, com Tom Jobim, cinqüenta títulos, quarenta com Baden Powel, trinta com Carlos Lyra e vinte com Edu Lobo.

Entre 58 e 65 produziu, com Tom Jobim, cinqüenta títulos, quarenta com Baden Powel, trinta com Carlos Lyra e vinte com Edu Lobo.

A rigor pode-se dizer, sem medo de errar, que a mudança radical da poesia na MPB começou com Vinícius de Moraes. A mulher traidora, vulgar, vilã e vagabunda cedeu o lugar à garota bonita cheia de graça, à mulher amada e linda. A mulher rejuvenesceu, deixou de ser vamp. Passou a ser graciosa.

Foi a dupla Tom-Vinícius que universalizou a Bossa Nova.E, pasmem, foi muito criticada por alguns críticos "de mal com a vida". A Bossa foi acusada de influência americana, quando, ao contrário, influenciou e contagiou a música de Tio Sam.

É muito extensa a obra poética de Vinícius, literária e musical.


BADEN POWEL
A BOSSA NOVA ENRIQUECE E GANHA O MAIOR VIOLONISTA DO PAÍS

Roberto Baden-Powell de Aquino, ou simplesmente "Baden Powell" nasceu numa cidadezinha do interior fluminense chamada "Varre-e-sai" em 6 de agosto de 1937. Veio para o Rio em 1955 indo morar em São Cristovão.

Neto e filho de músicos, o garoto herdou o talento e a genialidade que estarreceram o mundo anos mais tarde. Seu primeiro violão foi "roubado" de uma tia e seu primeiro professor foi o Meira - violonista da orquestra de Pixinguinha.

Baden começou a tocar profissionalmente no Cabaré Brasil e, mais tarde, na boite do Hotel Plaza, onde se reuniam os primeiros "bossanovistas". Seu primeiro sucesso foi "Samba Triste", composto em 1959, em parceria com Billy Blanco.

Escreve Luiz Carlos Maciel: "Para mim, Baden Powell é o maior compositor da genuína música popular brasileira - ninguém faz uma seresta moderna melhor que ele. Toca tudo que é possível e toca melhor do que todo mundo. Ninguém harmoniza melhor do que Baden. Ninguém. Eu o conheci através de Dolores Duran, no Beco das Garrafas, no Little Club... tenho quase certeza de que fui eu quem o aproximei de Vinicius de Moraes."

Parecia que "uma química especial" existia entre os dois. Ficavam dias inteiros tentando encontrar o fim de uma canção! A primeira parceria foi "Samba em Prelúdio". E se seguiram mais de 50 clássicos. Baden teve muitos parceiros poéticos, inclusive Paulo Cesar Pinheiro. Desse ultimo, eu gosto muito de "Violão Vadio" que Eliseth interpreta magistralmente. O longo período em que viveu na Europa fez com que seja muito mais conhecido naquele continente, principalmente na França e na Alemanha.

É, sem dúvida, o maior violonista do Brasil em todos os tempos, não só pela técnica, mas pela capacidade de criar. Ninguém criava acordes mais lindos. Baden suplantava a todos.

PERY RIBEIRO
A MAIS LINDA VOZ DO BRASIL GRAVA "GAROTA DE IPANEMA"
UM CLÁSSICO DA BOSSA NOVA

Pery Ribeiro é filho da famosa cantora Dalva de Oliveira e do compositor Herivelto Martins. Esse nome artístico foi sugerido e adotado pelo apresentador César de Alencar nos anos cinqüenta.

Gravou seu primeiro disco em 1960. No ano seguinte gravou dois grandes sucessos da dupla Antonio Maria e Luiz Bonfá: "Manhã de Carnaval" e "Samba de Orfeu". É um cantor de estilo genuinamente romântico e de seus relacionamentos com a Bossa Nova surgiu a primeira gravação de "Garota de Ipanema", de Tom e Vinicius, feita em 1963. Gravou doze discos desse repertório, dos quais se destacam:

- "Pery Ribeiro sings Bossa Nova Hits" [1980]

- "Os grandes sucessos da BossaNova" [1980]

Pery é um cantor completo: Um lindo timbre de voz, respiração perfeita, apurado uso do diafragma e uma ótima divisão de frases. Pena não ter o reconhecimento merecido.

Desenvolveu trabalhos jazzisticos com Leny Andrade e Bossa Três, com quem obteve sucesso na gravação ao vivo do show "Gemini V", viajando pelo México e Estados Unidos, onde atuou também ao lado do Conjunto Sérgio Mendes.

Recomendo um disco perfeito do Pery que ouço quase diariamente:

- "Tributo a Taiguara"

Imperdível!


LÚCIO ALVES
OUTRO GRANDE PIONEIRO DA BOSSA NOVA

No seu livro -"A onda que se ergueu no mar"- Ruy Castro escreve, com o brilhantismo e a competência de sempre, um ótimo resumo biográfico de Lucio Alves, fazendo um paralelo com a vida de outro "monstro sagrado": Dick Farney.

"Os dois tornaram clássico quase tudo que gravaram. Inspiraram seguidores sofisticados, abriram o caminho para a Bossa Nova, participaram dela como ministros sem pasta e, juntamente com ela, foram atropelados pelo processo. Na passagem dos anos 60 para 70, os dois viram seu mercado encolher dramaticamente. Mas nunca se prostituíram, nunca fizeram concessões a estilos em que não acreditaram. E pagaram por isso: morreram tristes, abandonados pelas gravadoras, afastados do público - Dick, em São Paulo, em 1987, aos 66 anos; Lucio, no Rio, em 1993, também aos 66 anos."

Lucio Alves nasceu em 1927, em Cataguazes, Minas Gerais, mas aos sete anos já estava no Rio. Muito jovem estreou no Programa "Picolino", na Radio Mayrink Veiga. Tinha apenas nove anos e já se apresentava, cantando o repertório de Orlando Silva, mas sua grande paixão era a voz do seu ídolo: Bing Crosby. Aos quatorze anos formou o Conjunto "Namorados da Lua". Já fumava desde os nove anos, "tomava umas e outras" e morava com uma mulher que tinha o dobro da sua idade!

E foi aí que surgiu seu primeiro sucesso: "De conversa em conversa", em parceria com Haroldo Barbosa. Daí em diante, foi só sucesso: 1945:"Eu quero um samba".

Lucio Alves gravou quase todo o repertório de Dick Farney. Os dois empolgaram a garotada que viria a fazer a Bossa Nova: Johnny Alf, João Donato, Dolores Duran, Billy Blanco, Tom Jobim, Newton Mendonça, Tito Madi e Carlos Lyra.

Em 1954, Dick e Farney receberam "um presente" de Tom e Billy: O clássico "Tereza da Praia", em homenagem a Tereza Hermany - mulher de Tom Jobim. Música e uma letra ma-ra-vi-lho-sas!.

Poucos sabem que Lucio Alves foi uma presença ativa nos primeiros shows amadores da Bossa Nova. Carro-chefe do famoso show na Escola Naval. Esse eu vi, acreditem!


HISTÓRIAS PITORESCAS DA BOSSA NOVA

Todo mundo ouvia falar muito de João Gilberto. Diziam que era um cara maluco, que já havia sido internado, vivia de cabelo enorme, barbado e que, como um vampiro, só saía à noite.

Certo dia, chegou à casa do Ronaldo Bôscoli. Não era nada do que diziam as más línguas.

Cabelo cortado, barba feita, sapato engraxado e, claro, um violão debaixo do braço. Tocou um violão fantástico que deixou todo mundo boquiaberto e explicou que tinha brigado com o Tito Madi, não tendo para onde ir. Já era madrugada quando João, convidado pelo Bôscoli, mudou-se para o pequeno quarto-e-sala do Edifício Haiti onde já moravam, além do Bôscoli, Mièle e um empregado chamado Chico. Cinco "artistas" num quarto-e-sala.

Era um sujeito de hábitos muito estranhos. Ficava horas ao telefone, horas no banheiro, para desespero dos outros moradores. Dormia vestido, com uma gravata tapando os olhos. Ficava, como um morto, em decúbito dorsal. Sempre muito limpo, muito asseado.

Havia um sistema para compras de mantimentos para a casa em que todos cooperavam. Só que o João Gilberto só comprava o que gostava: Tangerina!

Ia pra rua de madrugada, passava na feira e comprava quilos de tangerina. Chegava por volta das seis horas e acordava todo mundo, cantando as músicas do dono da casa, Ronaldo Bôscoli. Aprendeu "Lobo Bobo" (que o Bôscoli fez para a Nara) e "Saudade fez um Samba", com acordes magníficos, deslumbrando a todos.

Certo dia disse ao Ronaldo (a quem ele chamava de "Ronga"):

- "Que suéter bonito, Ronga! Vocês cariocas tem bom gosto! Me empresta?".

O coitado do Bôscoli emprestou o lindo suéter que ficou pra sempre com o "cara-de-pau".

Quem quiser ver, compre o primeiro LP que gravou: "Chega de Saudade". O suéter está lá.

Quando a Bossa Nova começou a ser descoberta, produzida e respeitada pela imprensa, algumas das mais lindas mulheres de Copacabana começaram a se interessar também pelos seus autores e cantores, que passaram a ser literalmente "cantados". Elas organizavam festas em seus grandes apartamentos e disputavam avidamente a atenção dos galãs.

Tom, Menescal, Bôscoli, Carlinhos e Normando eram os alvos principais. O primeiro era o mais cobiçado, embora casado e super-vigiado por sua mulher - Teresa Hermany.

Consta que quando uma moça apaixonada pelo "bom pinta" debruçava-se no piano, exibia seu generoso decote e dizia languidamente: "-Tom, você me leva em casa?", ele respondia:

"- Um momentinho, vou telefonar pra Teresa".

Mas não resistiu aos encantos da atriz francesa Milene Demongeot.

Normando Santos, que era professor de violão na escolinha de Carlos Lyra e Roberto Menescal, tinha uma aluna especial: Maria Teresa - mulher do então Vice-Presidente da República, João Goulart. Reza a lenda que ela o convidou para "ver um filminho no Palácio, às quatro horas". Contente da vida, nosso amigo foi ao cinema Palácio, comprou os ingressos e ficou na porta, à espera daquela beleza de mulher. Esperou, esperou e nada! Voltou pra casa.

Depois ficou sabendo que ela o esperava no Palácio Laranjeiras, não no cinema Palácio....

Sóstenes Pernambuco Pires Barros morou na Rua Barão da Torre, em Ipanema, quase esquina de Vinícius de Moraes. Estudioso e apreciador da "Bossa Nova", tinha uma grande coleção de discos, CD's e livros sobre o assunto. Nem precisa dizer que era freqüentador assíduo da "TOCA DO VINÍCIUS" (R. Vinícius de Moraes, 129 - Tel 2247-5227), bem perto da sua casa.